Não faz muito tempo,
estive em aventuras familiares no sertão pernambucano. Não esperava
além de uma bem-vinda mudança de ares, posto que a cabeça e o
coração andavam atribulados naqueles dias. Após horas de estrada,
boa parte desta em péssimas condições, chegamos finalmente a
Tabira, onde fomos carinhosamente recebidos por um tio em seu pequeno
negócio. A localização era privilegiada, com vista para a
movimentada pracinha da cidade, famosa por ser um coração
comercial, social e cultural da região. Abriram-se as primeiras
cervejas, matou-se alguma saudade e de lá cruzamos a fronteira
interestadual para adentrar território paraibano, em plena Serra do
Teixeira, rumo ao município de Água Branca, onde nasceu minha avó
materna. O final de tarde não poderia ter sido mais agradável, pois
à medida em que o sol baixava, o frio interiorano mostrava as caras
e a conversa em família, na calçada à porta de casa, era regada a
cerveja gelada e a boas lembranças. A noite sucedeu-se igualmente
simples e sincera; após um jantar rico em especiarias sertanejas,
todos se arrumaram e dançaram sucessos de verões passados no
ginásio da cidade, ao som do intérprete local Pé Roxo - a origem
do apelido me rendeu boas risadas, mas agora me foge à memória. O
repertório atirava para todos os lados: de Roupa Nova a Luiz
Gonzaga. Lembro que cansado e algo ébrio, ainda tentei folhear umas
páginas do Saramago que carregava na mochila antes de adormecer
num sono calmo e revigorante, como havia tempos não dormia. Na manhã
seguinte, caminhei entre barracas e pessoas na feirinha local, que se
revelou um retrato lúcido e carinhoso das tradições populares
daquele povo; espantou-me ver, após tantos anos desde a minha última
visita, a enorme quantidade de motos e automóveis, que agora
dividiam cenário com os ainda presentes carros de boi e cavalos de
montaria. O que dizer da pequena cadeia pública, situada porta a
porta com o postinho de saúde da família? Isto sim, é vanguarda política –
pensei. Por 2 reais, comprei um CD dos Nonatos, famosos na região e
compositores de canções imortalizadas por outros artistas, conforme
constatamos enquanto ouvíamos os hits já a caminho da próxima
aventura: São José do Egito.
Feira de Água Branca - PB
2 comentários:
Brenoso!
Coisa linda sua sensibilidade as coisas belas da vida sertaneja.
Espero que traga desse Norte selvagem boas observações para nos falar do bem da vida.
Saudade, amigo.
Com a sua descrição poética deu uma vontade gigante de conhecer o lugar... Eu que sou muito urbana imagino que a sensação deve ser essa mesma que você passou... Muito legal... Beijo
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