quarta-feira, 27 de junho de 2012


Sobre o São João em Arcoverde

A viagem foi massa, a família de Pablo nos recebeu muito bem. Deu pra ouvir muita música boa juntos, tanto na estrada (longa) quanto lá - de Mastruz com Leite (ao vivo em 1997) a Pearl Jam, passando por um tal Olho de Peixe e pelo Buena Vista, sempre curtindo com a mente e celebrando essa nossa paixão desenfreada por música popular. No mais, chegando em Arcoverde, confirmei uma impressão muito pessoal: eu sempre fico deslumbrado com algumas coisas do interior; Foi o que aconteceu quando tomamos café da manhã em pleno açougue municipal, ao som de peixeiras e de boas risadas, pois já estávamos mais pra lá do que pra cá após uma primeira noite repleta de milho, cana e pé-de-serra. Que Bode guizado foi aquele? E o porco? brilhava mais que charque no óleo! Devo confessar que dele eu abri, haja visto que a camada adiposa era mais espessa que a muscular. Como bem disse Pablo, aquilo é o que sustenta boa parte da classe médica! Fonte inesgotável de lesões ateroscleróticas e de futuros Infartos e AVCs. O deslumbramento há de refletir alguma busca por raízes matutas que sei ter e que ficaram pra trás, pois minha mãe, sertaneja de Tabira, mais lamenta do que celebra as tais coisas do interior. O que dizer da temida sinfonia de pardais, que nos acordaria mal humorados na manhã do sábado, conforme me haviam dito? É que o velho Patriota cria pelo menos umas 50 qualidades de passarinho e nos falaram que eles mais brigam do que cantam - isso me deixou intrigado e fui deitar ansioso pela sinfonia dos pardais (que deveria ter algo de pós-moderna) e, já com a ébria cabeça na almofada, não contive a risada só de imaginar Carlos, PC,  Luiza e Sílvia acordando putos da vida, com os cabelos sujos de resto de alpiste. E não foi bem assim que aconteceu - todos dormiram bem e os bichos, se brigaram, foram mais brandos em seus dizeres, pois embalaram o meu sono, que, de tão gostoso, foi desproporcionalmente bom em relação ao chãochonete em que dormi - pense numa camada de lençol, aquela que me separou do chão! No sábado, mal tivemos tempo de curtir o banzo pós-prandial de um almoço farto; havia muito a se carregar e montar para a apresentação da tardezinha; contamos com a ajuda dos amigos e muito me tocou usar a bateria de um desconhecido, que, mais por gentileza do que por ganho próprio, deixou que eu tirasse o cabaço de seus tambores recém-comprados. E serviram muito bem, pois a apresentação da bandavoou foi suave e contou com a ajuda de aproximadamente 50 pessoas, várias delas muito queridas, que lotaram a sincera livraria Lira Cultural e, em meio a livros e cafés, vibraram com nossas composições. Tecnicamente, o desempenho deixou a desejar, posto que estávamos desfalcados por Rui, maestro silencioso e onipresente do grupo, e por Marina, nossa maguinha artista das cores; Ainda assim, as canções foram cantadas, as pessoas se emocionaram, as baquetas quebraram - me permiti tocar mais solto e experimentar em algumas músicas e a banda voou. Confraternizamos o sucesso modesto no sítio, onde muito se comeu e se forrozou ao som de um sanfoneiro dos mais impressionantes que já vi - o cara não negava som nenhum e tinha uma memória monstra para os forrós bons (e ruins) da vida. Carlim não resistiu e ligou o contra-baixo - juntos devem ter tocado por no mínimo 3 ou 4 horas daquela madrugada bonita e iluminada por uma fogueira ardente, grande, impossível de ser pulada - para o desencanto de Sílvia. No Domingo, antes de pegar a estrada de volta em uma noite chuvosa às portas do sertão, assistimos ao amigo Pablo cantar em palco municipal, no alto do Cruzeiro, acompanhado por uma banda talentosa, pelos amigos e pela garoa. Garoa que umedeceu as roupas e nos lavou a alma para que voltássemos à capital renovados por um São João que ficará para a posteridade.